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Abril 2013 / Revista da CAASP
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jesuítas, certamente serão aliados da humildade intrínseca aos franciscanos. Há que se acreditar na
autenticidade dos hábitos espartanos do Papa Francisco ­ nada, até aqui, nos leva a suspeitar de
mero marketing, como alguém aventou. A questão principal, contudo, é a capacidade e a disposição
de Bergoglio para espanar certos dogmas medievais incrustados no Vaticano e, de outra parte,
propugnar a punição, pelas leis comuns, dos criminosos escondidos sob a batina.
Falamos de pedofilia, é claro. A simples repreensão verbal de padres pedófilos, mesmo quando
acrescida da perda das atribuições clericais, pode bastar para a consciência católica, mas coloca-
os acima dos demais mortais, para quem praticar ato sexual ou libidinoso com criança é crime
inafiançável em qualquer lugar civilizado.
Não se deve cobrar do novo Papa que revolucione a Doutrina Católica. A observância literal do
Concílio Vaticano II já constituirá significativo avanço. Na Carta Encíclica Pacem in Terris, que integra
aquele Concílio, Angelo Roncalli, o Papa João XXIII, escreveu: "O progresso da ciência e as intervenções
da técnica evidenciam que reina uma ordem maravilhosa nos seres vivos e nas forças da natureza.
Testemunham, outrossim, a dignidade do homem capaz de desvendar essa ordem e de produzir os
meios adequados para dominar essas forças, canalizando-as em seu proveito".
A sensibilidade de João XXIII, cujo papado perdurou de 1958 a 1963, parece antever conflitos de
agora. Não seriam o aborto e a eutanásia questões que mereçam ser abordadas à luz da Pacem in
Terris? E quanto à realização de pesquisas com células-tronco? O uso de preservativo ­ sob certo
aspecto também um avanço tecnológico - não merece ser considerado por seu efeito na saúde
pública, sobrepondo-se em nome da vida a ser preservada mesmo que em detrimento de uma vida
a ser concebida?
Paralelamente a tais questões, que esperam tratamento antiobscurantista por parte do Papa
Francisco, há temas de Estado inerentes ao Vaticano que devem ser esclarecidos de imediato, a bem
do exemplo que a Cúria Romana deve dar a suas afiliadas pelo mundo. O principal deles, sem dúvida,
diz respeito às condutas suspeitas do IOR, o Banco do Vaticano, que não cumpre sequer as normas
europeias contra a lavagem de dinheiro.
São questões prementes, que afligem a mais de 1 bilhão de católicos, e, naturalmente, muito mais
importantes que a nacionalidade do Papa.
Fábio Romeu Canton Filho