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Revista da CAASP / Abril 2013
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ENTREVISTA
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ENTREVISTA
Essa fixação no aspecto monetário, na taxa de juros, por exemplo, não é mais da parte da
imprensa?
É dos economistas. Na verdade, os economistas contribuíram fortemente para a crise de 2008.
Eles vieram atrás dos fatos. O setor financeiro inventou fórmulas que supostamente reduziriam o
risco. Isso, supostamente, permitiu uma alavancagem muito maior. Como eles conseguiram isso?
Destruindo as condições de controle do sistema financeiro que haviam sido construídas nos anos 30,
à época do Roosevelt (Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos). Inventaram a teoria
de que os mercados eram perfeitos.
Com Milton Friedman, da Escola de Chicago, à frente, correto?
O Friedman era um pedaço disso, mas teve influência no mundo todo - na Tatcher (Margareth Tatcher,
primeira-ministra britânica), por exemplo. Mas aquilo ­ a pregação do mercado infalível ­ veio para
justificar a patifaria do incesto entre o sistema financeiro e o poder incumbente. Começou tudo lá com
o Reagan (Ronald Regan, presidente dos Estados Unidos) e veio destruindo aqueles controles todos até
chegar à crise de 2008. A crise de 2008 reproduz a crise de 1929. Não teve a mesma profundidade
porque agiu-se de forma diferente.
Se você ler o Relatório Pécora, sobre a crise de 1929, verá que o sistema financeiro de então cometeu
os mesmos crimes e abusos de agora.
A crise de 2008 fez renascer o keynesianismo?
Keynes (John Maynard Keynes, economista britânico) nunca morreu. O problema é que uma parte dos
economistas foi cooptada para dar suporte supostamente científico a uma patifaria produzida por
um incesto entre o setor financeiro e o poder incumbente.
E o Brasil nessa história?
O Brasil é um país fantástico. O Brasil está num processo de revolução e as pessoas ainda não
entenderam isso. O Brasil é o único país do mundo em que há 12 ou 15 índices de preço, publicados
toda semana. É o único país do mundo em que o Banco Central publica previsões do sistema
financeiro e as chancela com seu carimbo toda semana. Nós gostamos do samba ­ tanto é verdade
que o sistema mais sofisticado utilizado pelo Banco Central se chama Samba (sigla para o termo
inglês Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach), o que demonstra que o Banco Central é
muito mais sutil do que parece (risos).